sábado, 1 de agosto de 2009


Parte VII - Conclusão - Acordando no sonho urbano

unTroglodita


Não consigo me mexer, falar ou esboçar qualquer reação, embora esteja absolutamente calmo e consciente de tudo a minha volta. É como se tivesse feito uma viagem para um lugar longe de tudo. Distante de mim e mais ainda da lógica. Quando consegui abrir os olhos, vi uma turba de curiosos se acotove-lando em torno de mim, na frente do Mc Donald.

— Que horas são? Que dia é hoje? Quantos anos se passaram?
— É meu caro, esta viagem foi a mais longa e perigosa que você já fez até hoje, sabia?

Além de não etender o porquê de toda aquela gente em torno de mim, eu também não conseguia precisar — e principalmente entender! — quem era aquele interlocutor mental.

Fui então colocado numa maca e levado no meio da população estupefata. Enquanto eu era carregado no meio de todo aquele tumulto como se fosse uma procissão, meu rosto foi atraído para um conjunto de pessoas que somen-te eu conseguia ver: eram eles, todos os personagens de todas as histórias que vi durante os meus momentos de inconsciência. O grupo inteiro me saudava, acenando as mãos, enquanto outros faziam gestos de incentivo e força. Todos — sem exceção! — estampavam um sorriso de vitória, como se fosse um reencontro de velhos amigos que tinham sido separado por causa de uma grande guerra.

Ao ver aquela fraternal recepção dos meus “amigos personagens”, um tipo de compreensão começou a brotar dentro de mim e meu rosto inundou-se de lágrimas. Eu chorava pela primeira vez em toda minha vida porque não sabia se voltaria a ver os meus aliados, que continuavam a me saudar com sorrisos e sacos de amendoim que eles comiam e jogavam sobre mim como se fosse um rito da saudação matrimonial.

Foi quando um velho padre de cabeça branca, vestindo um ábito preto surgiu no meio de toda aquela multidão louca. Ele fez o sinal da cruz sobre a minha testa e disse...

— Amém.

Em seguida, com um terço na mão, o padre mastigou um amendoim e todos sumiram, tanto os personagens como o próprio padre.

— Então é isso — pensei admirado com o que tinha entendido...

Bem, o tempo passou e muitas coisas mudaram radicalmente em minha vida desde aquele evento cismático no Centro da cidade. Minha mulher, a Carla, me deixou e muitos amigos também me abandoram — graças a Deus!

Embora eu não tenha passado o révellion do ano 2000 em Mangaratiba, eu sou profundamente apaixonado por toda aquela região e por tudo o que ela repre-senta para a reorientação do meu destino.

Sabe o que eu fiz? Abandonei a informática e me tornei médico, me dedicando integralmente ao estudo da medicina chinêsa e japonesa, onde pesquiso acu-puntura, fito-terapia, ioga, do-in e muitas outras técnicas integradas de cura holística.

Quanto a Deus..., eu não tenho e nem nunca terei um! O que simplesmente possuo são amigos. Ciganinhas, orixás e santos são algumas destas imprescindíveis amizades que sempre me acompanharam e sempre estarão ao meu lado. Em verdade, nunca terei deuses e muito menos religião. O que tenho são amigos-personagens. Só isso.

Atualmente, já no ano 2000, tenho um casal de filhos e sou casado com a mais linda mulher de lábios claros, seios pequenos, pele branca e olhos azuis que existe em todo o mundo.

Bem, vamos ficar por aqui. Sem Deus, adeus, ou até logo.

Simplesmente...Amén Do-in.

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