segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Segunda Narrativa

“Se por um lado, a vingança é um prato quente que se come sadicamente pelas beiradas; por outro, a salvação é como um zeloso casal de pássaros: você sempre verá os pais, porém jamais saberá, em tempo algum, onde está o ninho com os seus ovos. É semelhante a uma árvore sagrada carregada de frutos: Não importa a época do ano em que vá observar, o ambicioso só conseguirá ver frutas verdes. A altura da árvore é irrelevante, porque a fruta madura não é para o faminto, mas somente para quem merece tê-la. A esperança e a salvação, portanto, sempre serão um segredo muito bem guardado!”


“...Corriam boatos, praticamente uma lenda, que uma única família da Cúpula Sacerdotal tricula, sobreviveu a este período obscuro e repugnante. Os pais, um bebê e seu avô deambularam de continente para continente, até se estabelecerem, em segredo, no mesmo território onde imperava o governo perverso de Fanaspatic. Felizmente, não eram boatos, muito menos uma lenda!”

O ciclo de terror acabou, no entanto o medo do indizível e a constante sensação persecutória pareciam eternas. Em meio a anarquia generalizada — que tinha se tornado rotina — e a instalação da insegurança jurídica mundial, a esperança, pelo menos a minha, se enraizava, até o presente momento, na lenda: a possibilidade de que uma única família de triculus da Cúpula Sacerdotal teria sobrevivido a sanha assassina do Sol Negro.

Somente hoje, passados muitos anos, posso compreender plenamente a razão que manteve em absoluto segredo a fuga e a sobrevivência desta família tricula como uma lenda.

É inexplicável, mas lá no fundo do meu ser, onde deveria habitar minha alma, cuja existência eu já começava a descreditar, mantinha-se uma certeza, sem um pingo de lógica ou racionalidade: Não era lenda, era algo real!

Após toda esta crise coletiva — e interior —, dizer que a minha salvação psicológica se deveu ao fato da lenda dos remanescentes ter sido uma realidade concreta, seria muito pouco para explicar a lenta e gradual unificação que aconteceu em todo o meu ser.

Num momento muito especial e único, a alma ressurgiu, e com em ato de redenção, a todos salvou.

Por considerar mais adequado ao encadeamento dos fatos desta segunda narrativa, deixarei vocês com a fala do portador das contradições, mas senhor e receptáculo das soluções, as quais nem mesmo ele poderia saber ou ter ciência.

Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecê-lo melhor, embora esta tenha sido a única e mais importante maneira de saber a respeito daquele que redimiu tudo a sua volta — e não somente a mim.

Este foi Sanav Rostran.

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