segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Parte VII — Interlúdio (ao pretérito)

Muitos anos se passaram, desde aquela tarde em que conheci Sanav. Foi nosso único e último encontro. Jamais poderia imaginar que eu fosse testemunhar e participar do raríssimo fenômeno triculu: a Radmoslav. A partir daquele momento, nunca mais ingeri alimento algum, fosse ele sólido ou liquido. Eu bebi de um vinho que me embriagou a Alma e que terminou por nutrir o meu corpo pela eternidade. Aquele sabor e seu perfume se mantem inalteráveis até hoje. Desde então, me vi impossibilitada, também, de me unir com outro homem, pois passei a amar com profundidade e desapego todo e qualquer um que me quisesse de coração. Tendo me tornado fogo, pão e vinho, como poderia amar uma única pessoa?

Não sei se vocês notaram, mas Deus se fez conhecer em nossas vidas, não pelo sexo, pela razão ou pelo coração? Mas através do paladar e do olfato. É fato!

Todos devem estar curiosos em saber, é claro, que fim levou o templo natural do Sol Negro, o lago de Avala L e o seu monólito sagrado, não é verdade?

Bem..., todo o pântano e sua população de animais nativos (terrestres, aéreos e aquáticos) nada mais eram do que reféns de uma mentalidade desvirtuada e perversa. Portanto, quando o Rushing jogou o seu pequeno ovo mágico, o mesmo caiu bem no meio da ilhota, em cima do IT2/5, destruindo-o por completo. A ilhota, no entanto, foi preservado porque ali germinou e cresceu um belíssimo girassol que terminou por salvar todo aquele entorno.

Durante à noite, o pequeno girassol abria-se, dando início ao processo de purificação, extraindo todo o psiquismo deletério e mágico que ali tinha se instalado. Paralelamente, emitia radiações amarelo-ouro que — lentamente — foram pacificando e devolvendo o equilíbrio a todo aquele complexo ecossistema.

Encanto macabro, perversão, tudo foi desfeito! As feras selvagens voltaram a ser o que sempre foram: animais naturais.

Além das milhares de sementes que pari, as quais “ressuscitaram” as culturas agrícolas extintas pela tirania do Sol Negro em todo o globo, eu também dei à luz a um casal de gêmeos, nove meses e meio após todos estes eventos. Eu os batizei como Annalumya e Lyberu. Ambos cresceram e se multiplicaram, dando origem a infindáveis ramos familiares que povoaram a Terra com esta descendência forte e renovada.

No entanto, para que esta sagrada heterose fosse perfeita e incorruptível, um ciclo biológico e reprodutivo deveria ser realizado pela humanidade vindoura. A partir do casal de gêmeos, filhos diretos de Sanav com Lusnua, aconteceria o seguinte, durante 19 gerações.

Toda menina, quando mulher e lactante, produziria um leite esmeraldino; já os meninos, quando adultos e maduros, produziriam um sêmen bordô com espermas de base esmeraldina, também.

Assim se fez, assim se cumpriu durante quase oito séculos.

Um vigor híbrido e espiritualizado cobriu a Terra com a multiplicação destas gerações por muitas e muitas décadas, estendendo esta herança genética através dos quatro cantos do mundo. O benefício geracional e coletivo foi tão intenso que erradicou o alcoolismo e a dependência de muitas outras drogas em toda a extensão da sociedade.

Cumprido o ciclo citado, as características bio reprodutivas da humanidade retornaram ao modelo clássico. Devotadamente, como uma forma de respeito e homenagem a todos que contribuíram à disseminação deste ciclo de renovação, as gerações seguintes fundaram a mais importante festividade tricula, realizada a cada dezenove anos: o Lagar Alado, pois neste período, em algum ponto da Terra, Berýlux ressurgiria para abençoar o culto e todos seus filhos espalhados pelo planeta. O pão e o vinho, portanto, voltaram a ocupar o ponto central de todo o — agora reorganizado e reestruturado — culto triculu e sua sagração única através do fogo.

Sempre na metade do ciclo do Lagar Alado, na festividade conhecida como Introito, dedicada a cerveja, os interessados seriam pré-iniciados e informados a respeito da benção maior dos triculus: a Sagração Telúrica. A partir do Introito, todos os interessados ou postulantes teriam menos de 10 anos de sucessivas instruções e reflexões até que recebessem a unção maior no Lagar seguinte.

Como o próprio tempo mostrou, os benefícios e êxitos — materiais e espirituais — ressurgidos na Terra foram espetaculares. No entanto, os reflexos danosos causados pela tirania mundial do Sol Negro ainda eram exponencialmente superiores. Um grande e duro trabalho deveriam ser feitos para depurar e extirpar, em definitivo, “as sementes” do mal.

Após a execução de Fanaspatic, todos os seus cruéis seguidores e colaboradores, foram sentenciados a depauperar em vida. A maioria, sem exceção, desenvolveu sérias patologias de ordem psíquica que os tornaram inúteis não só para a vida, mas até para a morte.

Certa vez, antes de conhecer Sanav, um desesperado que sobreviveu ao período de terror disse: “Quem morre encontra-se com o passado. O futuro é um privilégio ou desgraça dos vivos!”.
O desespero leva-nos a dizer coisas tão profundas e à frente do nosso tempo, que só mesmo o amanhã pode ser capaz de entender ou desvendar.

Você acha que sou o futuro e você o passado? Pois, bem: O presente mente em nossas mentes. O resto é ilusão, passatempo!

Mas o futuro era promissor...

Como mãe das sementes, não estou orgulhosa de si! Apenas feliz e radiante em ver que as sementes caíram em solo fértil e fecundo, gerando frutos saudáveis e perfeitos à evolução e ao reerguimento da ordem, da liberdade, do direito e da luz.

Muito há o que ser feito, ainda, nos reinos que auxiliaram o processo de purificação e salvação do gênero humano. O que há de ser realizado, como gratidão e dívida aos Senhores dos reinos, é enorme.

O que sei a respeito do futuro, não são boatos e muito menos uma lenda! É apenas um novo e muito bem guardado segredo que levará adiante tudo o que teve início conosco, pois a heterose que renovou o mundo, não se restringe somente a um processo biológico e espiritual: Ela se estenderá, do mesmo modo, nos domínios da sociedade e da política do amanhã.

“...Em um determinado período, logo após o cumprimento das 19 gerações, algo extraordinário — e inesperado — aconteceu!

Num lugar ignorado, em algum ponto da Terra, uma família de camponeses, com uma única filha, foi agraciada com a visita do salvador alado.

Antes que a tarde terminasse, enquanto os pais desta criança de 10 anos trabalhavam na terra, surgiu das montanhas do poente, a preciosa joia alada.


O gigante esmeraldino voou na direção desta criança, que desde cedo já demonstrava uma beleza divina e rara de se encontrar no mundo. Ninguém se assustou com a visita, nem os pais e muito menos a menina. Curioso e impressionado com tamanha beleza, Berýlux se aproximou mais ainda dela. Por algum motivo, ele quis realmente ver, bem pertinho, quem era aquela menina, cuja beleza encantava até os cegos, curando-os completamente.

A menina ficou tão fascinada com aquele escorpião gigantesco flutuando no ar, que resolveu fazer um carinho em sua fenomenal pinça esquerda. Berýlux ficou tão emocionado e surpreso com aquele gesto espontâneo e carinhoso que pousou no chão e caminhou um pouco em torno da menina.

Admirados, os pais perceberam que no exato momento em que a filha acariciou o gigante alado, um ponto vermelho, mais precisamente um coração, passou a ser visível no centro de seu colossal corpo esmeraldino e translúcido.

Ele então voltou a se elevar no ar. Em seguida, com todo cuidado e carinho, levantou a menina com suas pinças, acima de sua própria cabeça, de modo que o bater das asas pudessem atingir o corpo dela totalmente. Assim se fez! E à medida que o vento era soprado sobre a linda menina, através destas asas multicoloridas, suas vestes foram expulsas do seu corpo, deixando completamente nu o seu corpo inocente, frágil — mas que ocultava um grande poder! Em seguida, Berýlux aproximou o seu aguilhão o mais próximo possível dela, formando um arco perfeito. Um spot líquido, da mesma cor de sua imensidão física, foi então borrifado em seus corpos, marcando-os com um perfume indescritível, irresistível.

Berýlux foi calmamente em direção aos pais e, respeitosamente, entregou a filha nua e definitivamente imantada com uma fragrância que definiria o destino dela e de muitos "futuros".

Os pais a receberam das enormes pinças do salvador alado e a cobriram com uma manta, pois ainda não tinha chegado o momento daquela beleza e de toda a sua misteriosa fragrância serem desveladas ao mundo.

Caberia ao olfato de outros amanhãs enxergar e compreender o que estava sendo, agora, ocultado.


Como um divino beija-flor, Berýlux os deixou num magnífico vou de costas, em direção ao poente...”

Se você quer compreender melhor o que realmente aconteceu com a filha destes camponeses, basta entender que ela não foi somente “elevada” da terra ao ar: Como uma necessária precaução, Berýlux “alou” esta linda menina, protegendo ela e os planos do amanhã...

Mas isso é uma outra história. São outras “sementes”...

Terceira Narrativa...


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