segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tèrtius

E foi exatamente isso o que aconteceu!

Desta muito bem planejada abstinência forçada, uma onda mundial de histeria colocou as mentes das populações nos mais danosos estados patológicos, porque a abrupta queda do consumo mundial por cerveja, era diretamente proporcional ao programado desabastecimento da bebida nos postos distribuidores. Logo, as bombas que outrora vertiam — irrestritamente — esta gratuidade estatal, agora estavam secas, vazias, porém, assim como um antigo provérbio, cheias de más intenções.

Em razão da imprensa estar totalmente corrompida e submissa nas mãos dos mais importantes membros do Sol Negro, foi muito fácil dar continuidade a esta arquitetura de dominação. Uma muito bem montada estratégia de propaganda, informação e contrainformação, colocou, definitivamente, este exército de adictos contra toda a família triculu, agora absolutamente encurralada e num beco sem saída.

Em poucos dias, os meios de comunicação — especialmente a imprensa zumbi — aterrorizaram o mundo, divulgando notícias pavorosas de que as culturas de cevada e lúpulo estavam a um passo da extinção, por causa de uma rara e perigosíssima praga, ainda desconhecida.

Nos dias que se seguiram, mais notícias “plantadas” foram veiculadas, onde os governos conjuntos já afirmavam a suspensão dos vale drinques. Mas por outro lado, estes mesmos governos já incutiam nas mentes — facilmente moldável das massas — a possibilidade de que a praga que destruía lavouras era fruto de um abominável ataque terrorista biotecnológico, como já indicavam os serviços secretos de inteligência, através de suas agências integradas de todo o mundo.

Observem que o trabalho de manipulação e divulgação das informações torpes disseminava-se da forma mais premeditada possível, de modo que uma mentira deslavada se transmutasse numa verdade inabalável; melhor ainda, inquestionável junto a opinião pública, formada por uma turba de incontáveis dependentes alcoólicos.

Sedimentada esta irreversível verdade, a próxima etapa selaria o destino dos opositores do Sol Negro para sempre.

A divulgação de um relatório conclusivo, produzido pela USI — Unidade dos Serviços de Inteligência, recebeu uma cobertura midiática histórica: a sua leitura foi feita em cadeia mundial, ao vivo, através do mais importante líder do Sol Negro.

Sim!, o pai sanguíneo da praga biotecnológica, o mais popular político feiticeiro que existia, afirmou publicamente, a partir deste relatório fajuto, que um organismo geneticamente manipulado tinha sido criado pelos triculus, unicamente para desestabilizar a ordem democrática globalitária transnacional entre os povos. Mas o líder e mentor maior do plano Vaga, fez questão de destacar: a destruição dos filiados e sustentadores deste regime legítimo e democraticamente aceitos pelas nações da Terra era a mais importante meta dos pervertidos triculus.

Indignados e possuídos por uma revolta incomensurável — e útil —, esta manada de subsidiados deu livre curso ao mais desprezível sentimento de vingança. Incentivados pelo Estado e dominados psiquicamente pelo abjeto poder do Sol Negro, iniciou-se o mais sanguinário ciclo de extermínio de seres humanos, desde que o homem passou a habitar este planeta.

O Estado uno em todo o planeta, a expressão pública e acional das forças satânicas, passou a subsidiar a morte, ao trocar determinado números de corpos triculus, por cotas de cerveja. No entanto, cotas especiais eram dadas em troca dos cadáveres de crianças triculu. Foi abominável ver crianças sendo tratadas como carcaças e, em seguida, trocadas pelo vício.

Sob a ótica do plano Vaga, estas “sementes” malditas — as crianças — deveriam ser destruídas na mais tenra idade. “Este futuro não deve prosperar”, diziam os guias das sombras.

“Eles não contavam, entretanto, com o segredo que ocultava as 'sementes'. Eis o mistério da salvação...”

Todavia, o momento não era — ainda! — de revelação e redenção, mas de uma cruel e covarde destruição fratricida.

O subsídio da morte, o Vale Assassinar, a mais vil ação que os agentes das trevas conseguiram introduzir entre os homens foi um êxito que superou as expectativas. Entretanto, o plano Vaga, já prevendo tal situação, pois se antecipou em tudo, dispôs diretrizes claras para solucionar os inconvenientes gerado pelo sucesso desta etapa.

Os resultados satisfatórios no processo de extermínio indiscriminado e definitivo dos triculus em todo o mundo, proporcionou uma espécie de passivo acumulado indesejável para os mentores do plano: O acúmulo de cadáveres. Houve, por isso, a ocorrência de um complicado problema de ordem sanitária, no qual a saúde pública se via incapaz de resolver de uma forma eficaz.

A solução indicada pelo Vaga foi taxativa!

As lideranças mundiais não fizeram nada mais do que seguir a risca e disseminar o lema que nasceu dentro das lojas do Sol Negro:

“Para que serve o pão? Que utilidade nos têm o vinho, se a carne é abundante e o sangue é farto?”

Esta mensagem demoníaca — subliminar, também — deu partida para o cenário mais bestial nas relações humanas.

Isso mesmo! A parcela da humanidade que encontrava-se dominada — psiquicamente — pela ira das sombras, se consubstanciou às práticas repugnantes da necrofilia, seguida do canibalismo. Este infeliz contingente de animais, não tinha mais condições de perceber o abismo que separava o psicológico, do psicopatológico.

Porretes, facões e foices eram utilizados no abate dos triculus. Em seguida, independente de serem crianças ou adultos, a rês de cada uma das vítimas era disputada ferozmente, sendo totalmente dilacerada com as mãos e, também, às dentadas pelos cegos selvagens.

Esta epifania das trevas realizava-se em vias públicas ou onde houvesse triculus disponíveis à carnagem.

As pretensões do Sol Negra eram tão inescrupulosas, que a cerveja fornecida nesta fase já apresentava uma — planejada — adulteração de ordem químico genética, que objetivava o enfraquecimento gradual e crescente dos adictos, pois estes se tornariam, em breve, um inconveniente tão insolúvel quanto os cadáveres dos triculus que passaram a abundar pelas cidades do mundo.

A vulnerabilidade imunológica deixou a legião de genocidas expostos a todo o tipo de doenças, contágios e infecções oportunistas — que neste quadro de total insalubridade psíquica e sanitária imperava por todos os cantos da Terra.

O destino dos “zumbis úteis”, já estava lavrado, há tempos, pela tirania da escuridão, porque estes já tinham cumprido a sua macabra finalidade, deixando de ser necessários ao estado globalitário. Todos seriam descartados com a morte.

Inegavelmente, o planejamento, a previsibilidade e toda a execução do plano espantou a todos os homens de bem, em virtude da rapidez com que atingiu seus objetivos infames, eliminando, sem dó nem piedade, os seus principais inimigos, os Filhos, os herdeiros — conscientes! — de Deus na Terra.

Como a barbárie genocida caminhava em passadas largas rumo ao seu último ato, os mentores do vírus já enxergavam a possibilidade de pôr em prática, o mais rápido possível, o golpe fatal sobre os triculus. E isso seria feito sem maiores apreciações ou remorso, pois piedade e psicopatia jamais foram irmãos; e se um dia foram, o segundo assassinou o primeiro pelas costas, logo que pôde.

Do mesmo modo que o Tulosvusir aniquilou e contaminou as culturas de cevada e lúpulo; que por sua vez contaminaram e destruíram as legiões dos adictos, ele também seria um elemento estratégico na derrocada final dos Filhos, praticamente extintos da face da Terra.

Logo após a eliminação dos triculus, esta parcela nociva da humanidade deveria pagar o seu inadiável tributo ao senhor das trevas: todos eles contraíram uma doença incurável. Este mal não foi resultado somente do canibalismo e das práticas sexuais abomináveis da necrofilia. O Tulosvusir contribuiu para a instalação, em seus organismos, de um tipo de imunodeficiência nunca visto em toda a história da medicina; algo realmente nefasto. Portanto, o exército de zumbis do Sol Negro depauperou em vida, ao apresentar um quadro muito mais devastador que a própria lepra, pois todos que assassinaram os triculus apodreceram em vida, entrando num processo irreversível de decomposição de seus corpos, ainda vivos. Primeiro eles apodreciam, depois morriam. Ou seria o contrário?

Embora a destruição das tropas mercenárias espalhadas pelo mundo não tivesse chegado ao fim, os articuladores do Vaga não hesitaram, e colocaram em andamento o estágio final do plano; que atingiria, em cheio, a mais importante base de sustentação da religiosidade tricula, ainda intocável.

Só faltava isso!

Pelo fato deste vírus ser uma avançadíssima estrutura OGMP — Organismo Genético Manipulado Psiquicamente, ele sempre estaria em conexão com os ditames do político feiticeiro “Fanaspatic”: o líder do Sol Negro, cuja consciência estava — satanicamente — codificada com esta monstruosidade biotecnológica.

Ao criarem o Tulosvusir com seus nano robôs realizando o vínculo psíquico com seu mentor, os inescrupulosos cientistas terminaram criando, também, uma espécie de espírito da natureza artificial ou um deva de laboratório; um Frankenstein biogenético, submisso a vontade abjeta de uma personalidade rancorosa e sempre vingativa.

Animado pelo desejo e pela vontade do mefistofélico Fanaspatic, o vírus se dirigiu, agora, para todas as culturas de trigo e videira da Terra. Em seguida, uma virulenta praga se espalhou em todas as plantações que existiam, levando a agricultura mundial a ter sucessivas quebras de suas produções, até atingiram um estado de total imobilidade produtiva.

Não era apenas uma questão econômica de quebra de produtividade — que por si só já era grave. As sementes da videira e do trigo estavam morrendo em toda parte do mundo. O quadro devastador era irreversível.

Com este golpe de mestre, o completo extermínio do trigo e da videira, não haveria mais a possibilidade de propagação e crescimento da religião dos triculus entre os homens.

Em virtude da sagração única dos triculus — o batismo com o fogo — só ocorrer pela inseparável e secreta combinação que unia o pão e o vinho, o fim destas milenares culturas, significava um colapso absoluto, um caminho sem volta na inquebrantável, até então, tradição espiritual tricula.

Se a família dos triculus e a sua sagração telúrica colapsaram, então tudo acabou, certo?

Xeque-mate!

Sim, isso mesmo! Depois de tantos éons, o mal finalmente triunfou na Terra.

Depois que tudo terminou, quando não mais existiam os triculus, os mercenários das trevas e nem o trigo e a videira, consegui, solitariamente, compreender melhor e analisar alguns aspectos geopolíticos de toda aquela monstruosidade que varreu o mundo.

Vi que era fundamental entender esta crise coletiva, como um abissal mergulho em sua própria patologia psíquica. Assim ficou bem mais fácil apreender as razões que levaram milhões e milhões de seres humanos a participarem desta engenharia sicofanta. Populações omissas, servis e coniventes, assumiram uma postura cega, surda e muda ante a emergência de um Estado e um poder mundial que se alicerçavam em bases integralmente anômicas.

Classificar o que vi — e sobrevivi! — como um museu de bestialidades, é pouco, é muito pouco, ainda, para explicar o desenvolvimento e o êxito do ciclo teratológico que foi deflagrado e liderado pelos fiéis do Sol Negro.

Pense bem...

Os idealizadores do Vaga entenderam, com anos de antecedência, que fazer a gestão — social, política e econômica — da humanidade com aquela taxa demográfica absurdamente elevada, seria algo desvantajoso para um Estado totalitário de dimensão planetária.

O esmagamento fratricida dos triculus e o desaparecimento da legião de zumbis, diminuiu cruelmente esta taxa demográfica da humanidade de então.

Segundo os meus cálculos e estimativas, a taxa populacional do planeta caiu para mais da metade. Portanto, era um dado demográfico muito mais admissível e plausível de ser submetido aos mecanismos de controle social e político do Estado, numa escala mundial.

O pior de tudo no mundo que sucedeu esta tomada de poder, foi a desnecessidade de manutenção do ciclo de perseguição e terror. O mais angustioso em tais situações, é quando o terror deixa de ser praticado pelo Estado, não por bondade deste, mas por puro sadismo, pela certeza de que o mesmo já havia se instalado na vida de seus dominados; ele já é, portanto, uma realidade vívida, invisível e temida interiormente por todos.

Os venais agentes do Sol Negro já sabiam que muito mais importante do que destruir e matar, é administrar um controle perverso sobre as populações, mantendo-as o mais próximas possível da realidade de Thánatos; deixando-as à deriva e sem esperança em relação à vida, à Éros.

Aqui termina a Primeira Narrativa: o ciclo teratológico — fundamentado na anomia absoluta — que levou os seguidores do Sol Negro ao poder global.

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